DISPOSITIVO DA MAGREZA
Dispositivo segundo Foucault:
"Um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre esses elementos. (1990,p.244)"
Rede de inteligibilidade a cerca do sujeito gordo, sendo este colocado como um problema e em oposição ao sujeito normal, o magro.
Condição de gordo associada à noção de risco que previne, constitui e organiza os sujeitos através da formação de verdades e padrões.
A Demonização da gordura
Pode ser vista nos programas e propagandas, buscando a normatização dos corpos. Em que:
A Magreza = saúde, beleza e sucesso.
A Obesidade = problema e riscos.
# O controle do corpo se tornou a ordem do dia.
# Corpo não como beleza particular e sim pelo seu valor econômico.
Na História...
# A Magreza é a “forma ideal” e pode ser “conquistada” em um determinado período histórico da sociedade.
# Antes o corpo era considerado doação divina, e não podia ser modificado.
Séc XV a XIX
Primeiros instrumentos de modificação do corpo, como exemplo o espartilho – sinal de nobreza.
SÉCULO XVIII E XIX
# Século da libertação (revoluções capitalistas) – Maior culto ao corpo.
# Culto ao corpo ganha força no Brasil – Engajamento das áreas de medicina e Educação Física demarcam a relação entre CORPO e PROGRESSO.
SÉCULO XX
Estado Novo: ganha força atividades competitivas na área intelectual, esportiva, de saúde e beleza.
CIVICIDADE! – RAÇA FORTE – EUGENIA (melhoramento da raça).
PORÉM beleza ainda não era ligada à magreza!
FINAL DA DÉC. DE 60
A Modelo Twiggy ganha fama e seu padrão estético (natural) – magérrima e jovem – ganha status de modelo padrão para qualquer mulher ou homem que se possa considerar belo.
década de 80
# Muitas jovens se tornam anoréxicas na primeira vez na história!
# Robustez das crianças considerada doença, ou não recomendável. Crianças cada vez mais como foco de reeducação alimentar.
Ser gordo
se torna um problema!
A obesidade como vilã a ser combatida!
BULIMIA
# Com todo esse bombardeamento midiático, com todos esses significados acerca do sujeito gordo, fica fácil entender por que cada vez mais encontramos adolescentes com transtornos alimentares.
# A literatura infanto-juvenil, juntamente com outras instâncias, principalmente a mídia, participa de um dispositivo da magreza, tomado aqui como uma rede de inteligibilidade lançada sobre o sujeito gordo.
"Dietas rigorosas, exercícios físicos intensivos e métodos purgativos passam a fazer parte do cotidiano dessas pessoas. Tais preocupações com o corpo e com suas medidas estão, hoje, tão associadas a um dado padrão de comportamento dito feminino que elas passam a ser definidas e reconhecidas como objeto ‘natural’ de atenção feminina. Um dos efeitos extremos dessa preocupação naturalizada parece ser a de levar garotas cujos corpos estão muito próximos dos padrões tidos como normais a perceberem-se com corpos ‘defeituosos (p. 15)."
bULIMIA
É o transtorno alimentar no qual o(a) paciente come num curto espaço de tempo grande quantidade de alimento como se estivesse com muita fome. O(a) paciente perde o controle sobre si mesmo e depois tenta vomitar e/ou evacuar o que comeu, através de artifícios como medicações, com a finalidade de não ganhar peso.
# Na Bulimia o(a) paciente não quer engordar, mas não consegue conter o impulso para comer por mais do que alguns dias.
# O Bulímico(a) é um(a) paciente com vergonha de seu problema, com sentimento de inferioridade e auto-estima baixa.
# É interessante notar que a bulimia não constitui uma completa perda do controle. O(a) paciente consegue planejar seus episódios, esperar para ficar sozinho e guardar alimentos, por exemplo.
Para o tratamento não há uma abordagem especialmente recomendada.
Pode-se indicar a psicanálise, a terapia cognitivo-comportamental, terapias de grupo, grupos de auto-ajuda, psicoterapias individuais.
O CORPO "GORDO" NA HISTÓRIA E NA CULTURA
As Três Graças de Rubens no Séc. XVII
"Representação de Bebê saudável em dado momento histórico"
o corpo "gordo" na cultura e na história
Lançando mão do conceito de dispositivo de Michel Foucault, a autora defende que há uma "rede de inteligibilidade" acerca do sujeito gordo, que isola o gordo como um problema e o institui em oposição a um sujeito "normal", saudável e desejável - o magro.
"O mundo nunca vai ser assim. Emagreça com SANAVITA".
"Temos hoje um conjunto de discursos que circulam associando a magreza com saúde, beleza e sucesso; um conjunto de atributos tidos como intrinsecamente positivos, bons e desejáveis. Em relação à obesidade, dá-se exatamente o contrário, ela é a associada a problema e riscos"
(Martins, 2006. p.26)
O CORPO "GORDO" NA CULTURA E NA HISTÓRIA
O dispositivo da magreza opera, assim, contra o gordo, e tem como finalidade a prevenção e a modelagem das pessoas em função do menor risco (já que se podem evitar a gordura através do comportamento das pessoas) e do maior ganho social (uma vez que a obesidade onera as redes públicas de saúde com internações, remédios, consultas e cirurgias).
E A PEDAGOGIA
DO
PHOTOSHOP?
Kate Winsley, após a publicação da revista declarou em entrevista à GMTV:
“Não quero que as pessoas pensem que eu sou uma hipócrita, e que desapareci da vista do público com o objetivo de perder 20 quilos, coisa que eu jamais faria. E mais importante: eu não quero ter essa aparência.”
A imagem de Beyoncé Knowles digitalmente modificada nos faz lembrar que a mulher “bonita” é: alta, magra, loira, longilínea… E BRANCA!
A cabeça de Demi Moore foi flagrantemente substituída por outra, de uma modelo de passarela, na capa da revista “W”, em 2009.
Kourtney Kardashian, sete dias após o parto, na capa da “OK Magazine”: além de explorar a imagem da criança recém-nascida e já expô-la aos recursos midiáticos, o “Photoshop” eliminou a barriga pós-parto.
Kimora Lee Simmons, em anúncio dos perfumes
“Baby Phat” em 2011.
"De fato vivemos hoje uma epidemia da obesidade que pode ocasionar problemas reais de saúde, como hipertensão, doenças cardiovasculares e diabetes. Contudo, considero mais grave o modo como a fronteira entre aquilo que é considerado alguns quilos a mais e a obesidade vem se confundindo, patologizando a todos e construindo uma vontade de normalizar, através de um endireitar o corpo, como se o corpo magro fosse um melhoramento ou uma evolução em direção ao seu estado perfeito"
(Martins, 2006, P. 28)