Verdes bandejas de ágata, meus olhos amarelos
caminham para mim pela milésima vez
enquanto estou cercado por brancos azulejos
e amparado por uma toalha de quadros.
No útero deste bar vou me elevando
e saio da noite cheia de ruídos
para a manhã do mar
onde tudo é sal, impossível alquimia
disfarçada num domingo
Amável,
esta manhã me aturde, manhã de equívocos
onde um sábado moribundo se entrega sem rancor.
Meu sábado, belíssima ave negra de olho aceso,
cai nas muralhas do sol como um herói melancólico
enquanto o mar abre o sorriso de dentes brancos
lavados na areia alvura.
Caminho para o sol que me atrai mecanicamente:
- Vou te decifrar, domingo;
diante de mim tua esfinge se enche de pudor.
quando a geração de meu pai
batia na minha
a minha achava que era normal
que a geração de cima
só podia educar a de baixo
batendo
quando a minha geração batia na de vocês
ainda não sabia que estava errado
mas a geração de vocês já sabia
e cresceu odiando a geração de cima
aí chegou esta hora
em que todas as gerações já sabem de tudo
e é péssimo
ter pertencido à geração do meio
tendo errado quando apanhou da de cima
e errado quando bateu na de baixo
e sabendo que apesar de amaldiçoados
éramos todos inocentes
Jorge Wanderley
Jorge Wanderley (1938-1999)
Características
Divido em 2 partes:
Aspectos formais
Características do poema
Verdes bandejas de ágata, meus olhos amarelos
caminham para mim pela milésima vez
enquanto estou cercado por brancos azulejos
e amparado por uma toalha de quadros.
No útero deste bar vou me elevando
e saio da noite cheia de ruídos
para a manhã do mar
onde tudo é sal, impossível alquimia
disfarçada num domingo
Verdes bandejas de ágata, meus olhos amarelos
caminham para mim pela milésima vez
enquanto estou cercado por brancos azulejos
e amparado por uma toalha de quadros.
No útero deste bar vou me elevando
e saio da noite cheia de ruídos
para a manhã do mar
onde tudo é sal, impossível alquimia
disfarçada num domingo
Amável,
esta manhã me aturde, manhã de equívocos
onde um sábado moribundo se entrega sem rancor.
Meu sábado, belíssima ave negra de olho aceso,
cai nas muralhas do sol como um herói melancólico
enquanto o mar abre o sorriso de dentes brancos
lavados na areia alvura.
Caminho para o sol que me atrai mecanicamente:
- Vou te decifrar, domingo;
diante de mim tua esfinge se enche de pudor.
quando a geração de meu pai
batia na minha
a minha achava que era normal
que a geração de cima
só podia educar a de baixo
batendo
quando a minha geração batia na de vocês
ainda não sabia que estava errado
mas a geração de vocês já sabia
e cresceu odiando a geração de cima
aí chegou esta hora
em que todas as gerações já sabem de tudo
e é péssimo
ter pertencido à geração do meio
tendo errado quando apanhou da de cima
e errado quando bateu na de baixo
e sabendo que apesar de amaldiçoados
éramos todos inocentes
Cada geração com diferentes perspectivas
A geração do eu lírico é a "mais errada"
Como os conceitos mudam de geração para geração?
Como ocorrem esses choques?
Quem é o culpado pelos erros afinal?
Somos também produtos de nossas gerações?
O que está por trás dessas mudanças?
O que pode mudar da nossa geração para a próxima?
As elaborações linguísticas constituem portas de acesso à interlocução, à construção de conhecimentos, ao mundo [...]
Logo, só podem ser plenamente compreendidas em uso, integrando o texto ao contexto — interlocutores, objetivos, modalidade da língua ou linguagem artística —, para que as experiências prévias, ou seja, o conhecimento de mundo do leitor, se articulem com as experiências de leitura propostas pelo texto e construam significados relevantes no processo linguístico da leitura, como se observa em A noite dissolve os homens, de Carlos Drummond de Andrade, e Esses chopes dourados, de Jorge Wanderley.
A experiência do leitor em conflitos de gerações e suas perspectivas leva à compreensão do texto!
As discussões acerca de tipos e gêneros em obras que tratam de abordagens inseridas em contextos sociais diversos potencializam o olhar crítico sobre o mundo e possibilitam a formação de leitores cidadãos, mais empáticos com o outro e suas realidades plurais. Nessa perspectiva, os poemas A noite dissolve os homens, de Carlos Drummond de Andrade, Esses chopes dourados, de Jorge Wanderley, Poema aos homens de nosso tempo, de Hilda Hilst, Quebranto, de Cuti, Tecendo a manhã, de João Cabral de Melo Neto, os contos A caolha, de Júlia Lopes de Almeida, Maria, de Conceição Evaristo, Oásis de Caio Fernando Abreu, Viagem a Petrópolis, de Clarice Lispector, a novela O recado do morro, de João Guimarães Rosa, e o romance Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro, expressam a diversidade de contextos sociais que enriquecem nossa literatura.
No campo social, as estruturas de organização excludentes oprimem, matam, segregam, o que pode ser percebido nas obras Entenda o que é Racismo Estrutural – Canal do Preto e nos poemas A noite dissolve os homens, de Carlos Drummond de Andrade, Quebranto, de Cuti, Esses chopes dourados, de Jorge Wanderley, e Poema aos homens de nosso tempo, de Hilda Hilst. Na organização das sociedades, as estruturas de poder e dos governos devem ser pensadas e problematizadas, como evidenciam os textos Sobre a violência (partes 2 e 3), de Hannah Arendt, e Necropolítica, de Achile Mbembe.
Os poemas Esses chopes dourados (2001), de Jorge Wanderley, e Poema aos homens do nosso tempo, de Hilda Hilst ( 1974), problematizam a diferença entre as gerações e a percepção sobre a violência e são vistas sob uma perspectiva intimista, já o conto Oásis (1975), de Caio Fernando Abreu, também aborda a violência, a discriminação de gênero e a opressão sobre minorias ou menorizados.
A percepção da finitude do entendimento pode impor certos limites às ambições da razão, que ao investir sobre a realidade, tende a uniformizações e padronizações questionáveis. Nesse sentido, os poemas Esses Chopes Dourados, de Jorge Wanderley, e Soneto, de Ana Cristina Cesar, apresentam relevantes críticas da realidade.