Luan Mateus Vick
Poemas parnaso-simbolistas
Tom fúnebre, doloroso
Eu-lírico vivencia a morte
Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
(DESENCANTO)
Carnavalização
Humor amargo
Ironia
Auto-humilhação do Eu-lírico
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quando é vário,
Canta no martelo."
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!"
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No porão profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário
público com livro de ponto
expediente protocolo
e manifestações
de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo
que pára e vai averiguar
no dicionário o cunho
vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo
os barbarismos universais
Todas as construções
sobretudo as sintaxes
de exceção
Todos os ritmos
sobretudo os inumeráveis
Estou farto
do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula
ao que quer que seja
fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade
tabela de co-senos secretário
do amante exemplar
com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras
de agradar às mulheres, etc.
Quero antes
o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil
e pungente dos bêbados
O lirismo
dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber
do lirismo que não é libertação