Apesar dos alertas dos grandes encontros e acordos mundiais, como Rio 92, Protocolo de Kyoto, Acordo de Paris entre outros, os esforços das nações não têm sido suficientes para reverter o processo das mudanças climáticas. A adaptação ao novo contexto já é um tema que cresce no debate, como último recurso para evitar grandes catástrofes. E, mesmo assim, presenciamos a ascensão do negacionismo e de políticas retrógradas. Eleições como a de Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil expõem uma ameaça mundial à continuidade das políticas tão necessárias na área do meio ambiente, assim como na educação e pesquisa, ameaça que se sobrepõe às necessidades e anseios mais profundos das comunidades em seus locais de vida e subsistência. A política ainda se encontra atrelada a grupos econômicos específicos que, em detrimento de um bem comum, se apegam com garras e dentes à defesa de seus privilégios.
São necessárias a resistência democrática e a proposição de novos caminhos, cujo conhecimento já nos está disponível. Mas para isso torna-se urgente construir políticas duradouras, que sobrevivam ao longo dos prazos requeridos para uma implementação efetiva de programas para um desenvolvimento sustentável. Isto significa políticas de Estado e não de governo.
Só uma nova Ética, promovida e sustentada pela Cultura e Educação, pode garantir a Sustentabilidade como valor central no desenvolvimento de um país. Uma Ética que nasça da essência humana, de nossos mais nobres e elevados atributos, sensível à finitude dos recursos da Terra, solidária aos povos necessitados, sustentada por um sentido de comunidade tanto local como global, convidativa à participação de todos a partir da vida vivida e do anseio por coisas melhores.
Não podemos esperar que algo novo nasça no interior do que caduca, numa representatividade deficiente porque prisioneira de velhas práticas e paradigmas obsoletos. Por outro lado, temos uma forma de democracia participativa e interativa crescendo no interior das comunidades, nas ruas e rodas de conversa, e principalmente nas ações transformativas de pessoas dispostas a arregaçar as mangas e pôr a “mão na massa”. São muitos os que já se empenham nessa direção, através de cooperativas, associações, coletivos e grupos de trabalho. A este movimento chamamos de “ativismo verde”. Trata-se de uma instância de ação política que desempenha um papel importante na transformação e regulação dos ecossistemas urbanos.
Esse tipo de ativismo não somente deve ser reconhecido como protagonista de decisões políticas, mas deve também ser protegido e apoiado pelas instâncias governamentais, atuando junto a elas, seja na colaboração mútua ou no contraditório (como resistência democrática). Considerado seu potencial de transformação e resiliência, propõe uma “ecologia da política”, oferecendo sua potência transformadora na forma de ideias, desejo de mudança e ações concretas. Renova assim o critério de tomadas de decisões, convencionalmente unidirecional (top-down), para um sistema multiescalar e multidirecional. Ao reconectar as pessoas entre si e em torno de ideais comuns, regenera a necessária relação de afeto e pertencimento, primeiro entre as pessoas que convivem no mesmo espaço social, e então destas com o lugar onde vivem.
Uma maior permeabilidade entre ativismo verde e Poder Público pode fecundar a política com esta nova Ética, para que as cidades se alinhem aos desafios da crise ambiental e mudanças climáticas. Não como aquelas políticas tecnocratas que falharam por não serem construções coletivas, mas políticas inclusivas, de todos para todos.
São muitas as necessidades: Instrumentos que garantam densidades populacionais viáveis à implementação das infraestruturas, adaptações nos Planos Diretores, nas Leis de Uso do Solo e nos Códigos de Edificação, o reconhecimento da importância de planos subnacionais, rigidez para a aprovação de projetos ambientalmente adequados, criação de um Banco de Terras prestadoras de serviços ambientais, estímulo à produção de energia de fontes renováveis, garantia do valor do verde e da água como bens preciosos e outras diversas demandas.
Há um aumento das emissões globais de dióxido de carbono, bem como a perda de florestas urbanas e suas consequências. Há dados conhecidos comprobatórios do aumento médio da temperatura global, responsável pela intensificação das secas, por furacões e nevascas, ameaçando inclusive a estabilidade do PIB das nações atingidas. Países pobres, está previsto, já sofrerão tais consequências a partir de 2030.
Há um aumento da temperatura global, bem como o aumento do nível do mar, apresentando fatores como erosão praial e soterramento dos mangues. Os eventos extremos já ocorrem, basta verificar os últimos verões no Brasil, e principalmente a seca de 2014, quando ao mesmo tempo outros eventos climáticos importantes ocorriam no hemisfério norte, configurando o padrão de mudanças do clima. Dados inequívocos indicam que ainda que as variações de chuvas na Amazônia ainda não representem algo fora do padrão histórico, a porção mais habitada (Amazônia oriental) já possui dados de redução do período úmido, se comparada à porção ocidental. Já a região sudeste encontra-se bastante alterada quanto ao seu padrão climático histórico, com aumento da intensidade tanto dos períodos secos como do regime das chuvas, sinalizando eventos climáticos extremos. A importância do regime pluvial amazônico nas chuvas do sudeste também anuncia um futuro preocupante, caso o desmatamento chegue a 40 % da área atual de floresta.
O comprometimento do cerrado e da área habitada da Amazônia já consiste numa realidade de aumento da temperatura média agravada pelo desmatamento. A grave redução de áreas úmidas é uma hipótese aceita, visto que há 45.000 anos existem registros de mudanças climáticas nos sedimentos fluviais que sustentariam tal hipótese, daí o alerta frente à realidade presente.
Tanto a Grande SP, com dados de enchentes em 2011 e seca severa em 2014, como a região serrana no Rio de Janeiro atingida pela tragédia dos deslizamentos também em 2011, todos os eventos alterando fornecimento de água, funcionamento da economia, ameaçando a saúde pública , formam um triste painel de eventos extremos, assim como as chuvas do verão de 2019, quando ocorreram 30 perdas de vidas por deslizamentos e desabamentos na Grande SP.
As nossas emissões de carbono têm um preço alto. Quanto ao aquecimento global, já estamos seriamente comprometidos e a zona tropical é a mais vulnerável.
Nas cidades a desarmonia entre o natural e o construído causa, além de prejuízos econômicos, sérias consequências para o clima, qualidade de vida e saúde da população. A desigualdade de renda e a segregação social faz dos mais pobres os mais atingidos.
A ausência de vegetação e a excessiva impermeabilização do solo reduzem a umidade do ar, aumentam a poluição atmosférica e hídrica, produzem “ilhas de calor”. Nos dias de forte chuva contribuem para as enchentes nos fundos de vale, ocupados por um planejamento equivocado. Nos assentamentos irregulares, justamente onde o saneamento é ainda inexistente, a população mais pobre e a habitação mais precária ocupam a margem dos córregos, ficando mais expostas a contaminação e doenças. Se usarmos o corpo humano como metáfora para a cidade, os rios urbanos são como as artérias. Pela qualidade de suas águas podemos ver os sinais de sua saúde. Rios poluídos não só indicam o evidente problema ambiental, mas também patologias sociais.
O mapeamento de temperatura de superfície na cidade demonstra uma relação direta com o índice de vegetação. Mais uma vez se comprova que as áreas periféricas e mais pobres são as que mais sofrem com a precariedade ambiental. Quando a temperatura média atinge 26 graus, superando os habituais 23 graus de média histórica, tem se registrado considerável aumento de óbitos.
Para proteger toda a população dos eventos extremos é urgente uma abordagem que trate seriamente da ocupação do território, e que trabalhe com o grande passivo da desigualdade. Ainda vivemos sob um baixo grau de investimento em infraestruturas públicas, principalmente em soluções inovadoras, ecológicas e sustentáveis. A cidade tem um grande potencial para gerar recursos importantes para recuperar a qualidade das águas, nosso bioma e cada um de nós, como indivíduos. Todos podem contribuir, mas principalmente aqueles envolvidos no desenho das cidades, os arquitetos, urbanistas e planejadores, têm a capacidade de se tornarem os “doutores da cidade doente”.
O que ocorre atualmente com as cidades, e a partir das cidades, são processos análogos à desertificação. As áreas urbanas tiveram sua superfície natural, verde e permeável aos fluxos hídricos, removida e substituída pela dureza e aridez do asfalto e do concreto. A biodiversidade praticamente desapareceu, as águas se ocultaram e estão poluídas, o ar mais quente, poluído e seco. Soma-se a isso uma lógica de produção que reverbera no território ampliado, com perda de produtividade agrícola, queda no nível dos aquíferos, aumento do nível do mar, e risco para cidades na linha costeira. Por esta lógica, o abastecimento das cidades ainda se dá pela remoção de florestas, esgotamento e poluição dos solos, rios e aquíferos, redução drástica da biodiversidade, gerando os conhecidos “desertos verdes” das monoculturas e sistemas insustentáveis de produção.
Para planejar cidades resilientes, isto é, com grande capacidade de recuperação e adaptação frente a eventos extremos e mudanças climáticas, são necessárias políticas públicas com investimento socioambiental nas áreas mais expostas, com ênfase na superação das desigualdades sociais. São mais de dois milhões de domicílios precários instalados em áreas inundáveis na Grande SP, o que muitas vezes exigirá serviços de prevenção e alarme aos habitantes, até que se efetive um novo desenho de ocupação de território.
Mudando nossas cidades elas podem se transformar numa fonte de vitalidade regenerativa. A lógica atual de ocupação, produção e abastecimento pode ser invertida com o reflorestamento desses “desertos”, com sistemas agroflorestais, horticultura orgânica, agricultura sintrópica e permacultura, tanto nas áreas rurais e periurbanas, como nas urbanas. Uma cidade sustentável é muito mais que a somatória de edifícios supostamente sustentáveis. O projeto de um edifício não será sustentável se não levar em conta seu entorno, em suas escalas sucessivas. Um planejamento urbano sustentável deve, além de preservar e criar novas áreas verdes, entendê-las como produtivas, e não como simples embelezamento. Atividades educativas, culturais e econômicas podem transformar o espaço público através da horticultura, fruticultura, floricultura e alimentação orgânica. Valiosos serviços ambientais podem ser oferecidos, como melhoria da qualidade do ar, mitigação de ilhas de calor, gestão hídrica, dispersão de biodiversidade, e a oferta de espaços altamente qualificados para o encontro, lazer, esporte e convívio social.
Muitas cidades menores encaram São Paulo como um modelo de progresso. Por isso a importância de que nas grandes cidades estejam as boas referências ambientais, tanto pelo uso da tecnologia de ponta como pelo resgate de técnicas ancestrais.
Precisamos de projetos piloto, como, por exemplo, o do CDHU de Santo André, onde está sendo possível uma experiência de descentralização da drenagem e saneamento, com a implementação de infraestrutura verde local, com jardins de chuva e outros dispositivos ecológicos de gestão hídrica. É necessário estudar e fomentar uma arquitetura de baixo impacto, o que inclui o uso da terra e do bambu, assim como os princípios da permacultura. A academia ainda não se debruçou sobre isto: é preciso sair da inércia e ir a campo.
Os rios têm papel fundamental nos processos biogeoquímicos globais e sua influência na morfologia da paisagem. Há uma relação entre movimentos tectônicos formadores e o fornecimento de mais ou menos sedimentos nos sistemas fluviais. Tais sedimentos não significam somente terra, mas também recursos para a vida aquática e vegetação, e consistem numa generosa fonte de registros geológicos, que contam a história do clima e da região. É difícil tal pesquisa em rios urbanos, visto que estes se encontram, em sua maior parte, confinados e concretados.
Há uma relação entre a retirada da vegetação e o aumento do aporte de sedimentos, alterando, portanto, a morfologia dos rios. A agricultura ribeirinha aumenta significativamente tal aporte, mas é o processo de construção nas margens (hoje intenso nas cidades) que agrava em muito o aporte de sedimentos nos rios, sobretudo os urbanos. Impermeabilizada a cidade, a erosão das margens cessa, iniciando-se outro processo, o de desagregação dos taludes e imprevisibilidade de cheias.
Há obstáculos físicos (construções e infraestruturas) que obstruem nossos sentidos do contato com os rios, e também um véu cultural que tem origem, por exemplo, na associação entre rio e esgoto, e que se reflete também na repulsa à terra, ao mato e à microfauna. É necessário superar esta cultura “naturofóbica”. A partir das escolas, mas também através de uma cultura ambiental mais ampla, é necessário trabalhar junto aos educadores para a formação de uma nova ética/estética/etiqueta, que reconheça os rios urbanos no seu real e precioso valor, assim como a natureza de forma geral.
As tecnologias e soluções que podem mudar o quadro atual precisam estar no âmbito doméstico e não só em projetos de grande porte, como, por exemplo, no cuidado como o próprio lixo e resíduos de casa, no cultivo de hortas nas janelas, terraços quintais, na adoção de composteira e minhocário, no cultivo de plantas filtrantes do ar e da água, nos banheiros secos, telhados verdes e outros elementos.
Existe uma lacuna entre teoria e prática a ser vencida. No seu ofício, arquitetos olham para as relações entre o sujeito e seu lugar. É fundamental que as questões ambientais e de operação do edifício estejam presentes desde a concepção do projeto de arquitetura. Edifícios sustentáveis pressupõem um processo constante de adaptação com a participação do usuário.
Com máximo aproveitamento das condicionantes do clima o projeto deve reunir condições favoráveis de conforto térmico, acústico e de iluminação, buscando a diminuição na utilização de energia elétrica. É fundamental recuperar a física aplicada na leitura das transmissão de calor e trocas térmicas, pois retomadas essas noções, muitos de nossos gastos deixam de existir.
Dá-se um demasiado valor aos sistemas de climatização, iluminação, isolamento acústico entre outros como complementos à arquitetura, quando o próprio desenho do edifício e os elementos arquitetônicos podem protagonizar a eficiência energética e climática do edifício. É comum climatizar um edifício como um complemento, mas é necessário fazê-lo como princípio, na concepção original do desenho. Para tanto seria útil retomarmos as grandes lições que tivemos, quanto ao conforto e técnicas passivas, na arquitetura brasileira dos anos 1940/50. Somam-se àquelas lições as novas tecnologias sustentáveis. Assim, as placas solares, por exemplo, poderiam atribuir aos edifícios a função de produção de energia, vendendo o excedente em sistemas conectados a mineradora de criptomoedas.
Existem dificuldades culturais e burocráticas para a instrução de populações em regiões menos urbanizadas. Não há uma legislação para a preservação e transmissão do conhecimento de práticas construtivas vernaculares, uma contradição típica de regiões em fase de desenvolvimento, como a região Norte do país. A relação, por exemplo, entre megaempresas como a Vale e o município de Paraopebas, no Pará, ilustram uma relação de dependência e paternalismo típica dessas situações.
A ação genocida de empresas estrangeiras no Brasil no tratamento com as populações indígenas, a incipiência das políticas de gestão frente à tragédia cotidiana da ocupação e violência nas grandes cidades, bem como a ausência de política educacional, tornam necessária a recusa em consumir produtos advindos desses contextos.
Ainda prevalece uma cultura baseada no consumo, e mesmo uma relação entre a gula e o consumo, como o desejo arraigado nos “paraísos” consumistas como a Disney e empresas congêneres. É preciso que se tome consciência de quais mecanismos são utilizados para o funcionamento da dominação destes sistemas sobre os consumidores.
Sabemos que o planeta não suporta esse modelo. Buckminster Fuller nos alertou, já na década de 1950, que vivemos em uma nave, a mãe Terra, e tudo que a ela fizermos em termos de uso de recursos, recairá sobre nós mesmos. É fundamental uma conscientização em larga escala para nos posicionarmos frente essas questões contemporâneas tão pungentes, por uma nova cultura que supere o paradigma do consumismo irresponsável.
É necessário e urgente que cada cidadão, no plano individual tanto como no coletivo, se torne consciente para que se possa obter mudanças verdadeiras na questão ambiental. Quanto à carne, para citar uma questão de grande impacto, não há condições para sustentar o alto consumo que vemos. A experiência de trabalho junto a comunidades carentes desvela falta de interesse, colaboração e comprometimento das empresas públicas nessa conscientização.
Temos que esclarecer sobre os limites ambientais ao aumento da frota de veículos e seus grandes deslocamentos, sobre o impacto resultante das altas emissão de gases de efeito estufa e poluentes. Temos de demonstrar que, quando aproximamos emprego e moradia, diminuímos ou até mesmo superarmos a necessidade do transporte motorizado e contribuímos para conter a dispersão descontrolada da mancha urbana sobre as áreas que nos fornecem valiosos serviços ecossistêmicos.
As novas tecnologias podem ajudar a gerar mais autonomia com desenvolvimento sustentável como desdobramento. Redes sociais, ainda que com a informação controlada, difundem a informação; softwares mapeiam com maior precisão e profundidade; bancos de informações se tornam cada vez maiores; aplicativos podem ser apoio para unir quem precisa com quem pode oferecer; bibliotecas virtuais, com disponibilização de fontes abertas na rede, permitirão acesso democratizado à informação.
Ainda assim devemos estar atentos de que o potencial emancipatório e democrático da internet é abalado pela questão da proteção de dados, sobretudo pessoais, pelo movimento monopolizante de grandes corporações. O constante registro de dados na internet resulta em uma espécie de extrativismo social em que tudo passa a ser monetizável, com base e influência nos comportamentos. Algoritmo conduz a bolhas, mas é necessário e possível dialogar com essa situação. Somos responsáveis pelo que buscamos na internet.
A perspectiva de uma economia descentralizada, com transformação regenerativa e ações coletivas, se contrapõe à imagem de que essas experiências são sempre residuais. Uma imagem para o futuro: automação, renda básica universal e menos trabalho, sobrevivência garantida e produtividade em outra chave.
As pessoas de modo geral desconhecem que há povos indígenas que resistem há mais de 500 anos ao cimento em zonas urbanas. O pouco que ainda existe de mata atlântica está em comunidades indígenas e áreas de preservação. Se em São Paulo falta água é porque as pessoas não sabem viver respeitando a água. Esta relação de respeito com a natureza é algo que podemos aprender com comunidades tradicionais, originárias de nossa terra. “A água está brava com as pessoas”, dizem os anciãos, mas os rios não estão mortos, estão pulsando embaixo do cimento. Diferente dos povos originários, as pessoas não percebem que a Terra é uma coisa viva. Essa conscientização já seria de grande valor para mudar nosso padrão de consumo, porque não dá para ter um ideal e um modo de consumir que o destrói. É preciso ser incisivo e concreto com nossas palavras. Muito se fala, pouco se faz.
Todos os seres humanos estão juntos no mesmo barco. Se não remarmos juntos na mesma direção, ficaremos sufocados. É necessário ouvir os mais velhos (os anciãos) falarem: “O espírito das florestas está bravo com a gente”, “Fazer a transposição é assassinar o rio (Itapanhaú, Bertioga)”. O Litoral Norte está podre de esgoto, qualquer pescador vai falar que os peixes estão desaparecendo.
“Sonhar grande, fazer pequeno e começar agora” é o ideal de uma iniciativa cidadã. Tem muita gente fazendo coisas que estão prontas para virar Política Pública. Tudo começa na conversa com as pessoas, no debate e na escuta, e depois na vivência. Isso as afeta e deixa mais informadas, não porque leram, mas porque viveram uma realidade. Trata-se, portanto, de empoderamento, e não somente de uma atitude de pedir ao Poder Público.
Podemos contribuir no sentido da solução da fome, da pobreza, de doenças e das mudanças climáticas com tecnologia ecológica e gerar “insumos mais eficientes” para as áreas rurais com tecnologia de acesso doméstico, como por exemplo biodigestores e compost-tea.
Podemos purificar o ar , produzir oxigênio e ilhas de frescor pela cidade toda, seja dentro dos espaços projetados, nas sombras de árvores grandes, em espaços ociosos, praças abandonadas e nos lugares mais “doentes” da metrópole.
Pode-se introduzir o cálculo “por biomassa perdida”, das macroeconomias globais às microeconomias locais, investindo tempo e esforço para determinar precisamente a pegada ecológica que existe em cada produto e serviço e criar taxas corretas que incluem “serviços regenerativos verdadeiros” para os lugares mais impactados pelas atividades humanas.
Sistemas agroflorestais como a Agricultura Sintrópica podem ser cultivados com usufruto permanente dos envolvidos , sistemas que diminuem ou eliminam o processo de arar os solos, regenerando processos biológicos naturalmente eficientes que prescindem de venenos e outras substâncias nocivas à saúde e ao solo. Outras estratégias como biodigestores e compost-tea quando associados, fabricam insumos de maneira bem mais eficiente e local a partir dos resíduos problemáticos.
Engenharia Ambiental já possibilita e deve defender soluções abrangentes, além de movimentos específicos como, por exemplo, a remediação de solos contaminados por postos de gasolina.
Com o design permacultural, a partir do planejamento da transformação, geração e utilização de recursos, que utiliza de técnicas e materiais ecológicos, por exemplo a bioconstrução e a produção orgânica de alimentos, transcende-se a frequência do nascer/habitar/comer e chega-se a uma condição sustentável, energeticamente eficiente.
A tecnologia da internet e a globalização deram maior alcance para a informação disponível sobre questões ambientais. Assim, podemos fazer as escolhas e definir instrumentos a partir daquilo que vamos enfrentar.
Enquanto enfrentamos uma sexta extinção em massa [1] nossa noção de coletividade vai se tornando uma questão crítica. A economia alternativa ainda carrega um problema clássico quanto ao poder de negociação de valor.
É possível usar a internet de um modo a não isolar as pessoas. São questões atuais o perfilamento de dados, as técnicas de programação, a criação de novas realidades. A internet não é sinônimo de redes sociais. Há problemas relacionados ao fato de o Facebook ser uma empresa privada. Problema das fake news é outro com grande relevância hoje em dia.
É possível a coexistência, sem sobreposição, de outros modelos de empreendimentos em tecnologia, diferentes do que se associa ao Vale do Silício: movimentos coletivos começam a se conectar, com a perspectiva de uma rede federada de cooperativas com uma reinvenção do cooperativismo. Tecnologias devem ser utilizadas para focar no “mundo real”. Por exemplo, quando redes sociais são acionadas para promover encontros e mutirões onde se ensina e capacita grupos de pessoas em diferentes contextos.
Está tudo nas nossas mãos. Como alcançar um sistema colaborativo? Como sair da polarização política e atingir uma convergência? Como formar o sujeito coletivo?
[1] The Last Hours of Ancient Sunlight - Thom Hartmann (1998)
Havia uma visão romântica da internet por volta de 1985, com a crença de que seria possível uma transformação profunda, alcançando-se uma economia descentralizada. As transformações atuais fazem pensar em um refluxo. A economia digital pressupõe monitoramento constante, necessário diante do assédio de quem quer acessar dados. Nesse sentido a tecnologia atual abre brechas e traz inquietação, por exemplo quanto ao monitoramento de hábitos, utilização de algoritmos e a diminuição de custo do reconhecimento facial. Quais os limites éticos da utilização dos dados pessoais na internet? Têm sido ensaiados programas de decisão coletiva para deliberar sobre o uso de dados - uma governança de uso coletiva. Temos que nos apoderar das tecnologias como apoio aos talentos das pessoas. A ideia não é servir ao Mercado. Importante apontar para tecnologias que se espelham nas dinâmicas presentes na Natureza e que vão ao encontro dos sonhos de cada um. Há a ideia de que aquilo que não é monetizável representa prejuízo. O dinheiro mal utilizado é um grande empecilho. Todos têm talentos e o acesso não deverá estar vinculado à capacidade financeira.
Blockchain: registros públicos irreversíveis em computadores potentes abertos, com algoritmo que indexa a transação e gera ether (moeda virtual diferente de bitcoin pois tem como base plataforma baseada em blockchains), que poderá ser captado por mineradoras de criptomoedas. Ainda que apresentado como seguro, fala-se que no sistema há risco de fraudes.
Matriz energética alternativa e sistemas integrados. Questão política: flexibilidade quando muda o cenário. Trama jurídico-burocrática para definir limite da produção. Descentralização, criação de cooperativas, troca de watts no mercado de commodities. Como estabelecer constância de fluxo de caixa? Modelo baseado na abundância vs Modelo baseado na Escassez. Monopólio vs negociar excedente.
Coisas imateriais com bases materiais: torrent, bitcoin. Recursos energéticos e infraestrutura desconectados do viés imaterial. Eficiência energética relacionada com os materiais.
Operações estratégicas-artísticas tem mais impacto do que uma obra artística em si. Estratégias institucionais podem ser vistas como objeto de design. Prática artística hoje: especulação sobre coisas pragmáticas (crítica experimental-pragmática), em que é possível o erro, a ”maluquice”, a intersecção de saberes.
Há, atualmente, em função das circunstâncias, uma ginástica semântica por parte dos artistas e ficção econômica em seus métodos de obtenção de financiamento.
Vê-se uma obsessão com a "presença" no mundo da arte.