Guia do PAS

Análise da Obra: Esses chopes dourados

Verdes bandejas de ágata, meus olhos amarelos 
caminham para mim pela milésima vez 
enquanto estou cercado por brancos azulejos 
e amparado por uma toalha de quadros. 
No útero deste bar vou me elevando 
e saio da noite cheia de ruídos 
para a manhã do mar 
onde tudo é sal, impossível alquimia 
disfarçada num domingo

Amável, 
esta manhã me aturde, manhã de equívocos 
onde um sábado moribundo se entrega sem rancor. 
Meu sábado, belíssima ave negra de olho aceso,  
cai nas muralhas do sol como um herói melancólico 
enquanto o mar abre o sorriso de dentes brancos 
lavados na areia alvura. 

Caminho para o sol que me atrai mecanicamente: 
- Vou te decifrar, domingo;   
diante de mim tua esfinge se enche de pudor.

quando a geração de meu pai
batia na minha
a minha achava que era normal
que a geração de cima
só podia educar a de baixo
batendo

quando a minha geração batia na de vocês
ainda não sabia que estava errado
mas a geração de vocês já sabia
e cresceu odiando a geração de cima

aí chegou esta hora
em que todas as gerações já sabem de tudo
e é péssimo
ter pertencido à geração do meio

tendo errado quando apanhou da de cima
e errado quando bateu na de baixo

e sabendo que apesar de amaldiçoados
éramos todos inocentes 

Esses chopes dourados

Jorge Wanderley

O autor

Jorge Wanderley (1938-1999)

  • Médico
  • Formou-se em letras
  • Professor de literatura
  • Escritor (contemporâneo)
  • "Tradutor poeta"
  • Prêmio Jabuti em 2004
  • Os 100 melhores poemas do século 

Características

  • Dominava formas fixas e versos livres
  • Uso de ironia
  • Linguagem coloquial
  • Análise crítica do cotidiano

O Poema

Divido em 2 partes:

  • Uma mais descritiva
  • Outra mais reflexiva

Aspectos formais

  • Versos livres
  • Rimas brancas
  • Texto lírico-narrativo - Prosa poética

Características do poema

  • Poema contemporâneo - difícil descrever esse período
  • Influências do modernismo - prosa poética na descrição do ambiente
  • Temas sociais e reflexões

Verdes bandejas de ágata, meus olhos amarelos 
caminham para mim pela milésima vez 
enquanto estou cercado por brancos azulejos 
e amparado por uma toalha de quadros. 
No útero deste bar vou me elevando 
e saio da noite cheia de ruídos 
para a manhã do mar 
onde tudo é sal, impossível alquimia 
disfarçada num domingo

Primeira parte

  • Eu lírico num bar - "esses chopes dourados"
  • Ambientação
  • Usa o recurso do texto lírico narrativo
  • Influência da geração de 22

 

  • Comparação entre sábado e domingo
  • Vibrante
  • Dia de festa
  • Boemia no bar
  • Moribundo
  • Misterioso
  • Quieto
  • Reflexivo
  • Manhã na praia

Verdes bandejas de ágata, meus olhos amarelos 
caminham para mim pela milésima vez 
enquanto estou cercado por brancos azulejos 
e amparado por uma toalha de quadros. 
No útero deste bar vou me elevando 
e saio da noite cheia de ruídos 
para a manhã do mar 
onde tudo é sal, impossível alquimia 
disfarçada num domingo

Amável, 
esta manhã me aturde, manhã de equívocos 
onde um sábado moribundo se entrega sem rancor. 
Meu sábado, belíssima ave negra de olho aceso,  
cai nas muralhas do sol como um herói melancólico 
enquanto o mar abre o sorriso de dentes brancos 
lavados na areia alvura. 

Caminho para o sol que me atrai mecanicamente: 
- Vou te decifrar, domingo;   
diante de mim tua esfinge se enche de pudor.

  • Prepara para um momento de reflexão

Segunda parte

  • Reflexões sobre conflito de gerações
  • Influência do tempo no inconsciente coletivo

quando a geração de meu pai
batia na minha
a minha achava que era normal
que a geração de cima
só podia educar a de baixo
batendo

quando a minha geração batia na de vocês
ainda não sabia que estava errado
mas a geração de vocês já sabia
e cresceu odiando a geração de cima

aí chegou esta hora
em que todas as gerações já sabem de tudo
e é péssimo
ter pertencido à geração do meio

tendo errado quando apanhou da de cima
e errado quando bateu na de baixo

e sabendo que apesar de amaldiçoados
éramos todos inocentes 

Cada geração com diferentes perspectivas

  • Diferentes graus de evolução cultural

A geração do eu lírico é a "mais errada"

  • Porém ninguém tem culpa
  • O certo e o errado mudam com o tempo
  • Apenas repetimos o que aprendemos com a nossa sociedade

Reflexões

Como os conceitos mudam de geração para geração?

Como ocorrem esses choques?

Quem é o culpado pelos erros afinal?

Somos também produtos de nossas gerações?

O que está por trás dessas mudanças?

O que pode mudar da nossa geração para a próxima?

Guia do PAS

Abordagem no PAS: Esses chopes dourados

A obra Esses chopes dourados  obteve 5 citações na Matriz!

As elaborações linguísticas constituem portas de acesso à interlocução, à construção de conhecimentos, ao mundo [...]

 

Logo, só podem ser plenamente compreendidas em uso, integrando o texto ao contexto — interlocutores, objetivos, modalidade da língua ou linguagem artística —, para que as experiências prévias, ou seja, o conhecimento de mundo do leitor, se articulem com as experiências de leitura propostas pelo texto e construam significados relevantes no processo linguístico da leitura, como se observa em A noite dissolve os homens, de Carlos Drummond de Andrade, e Esses chopes dourados, de Jorge Wanderley.

Primeira citação

  • Participação ativa do leitor na construção de significados
  • Importância da integração entre vivências do leitor e experiências propostas
  • Essa articulação constrói significados importantes no processo linguístico

A experiência do leitor em conflitos de gerações e suas perspectivas leva à compreensão do texto!

As discussões acerca de tipos e gêneros em obras que tratam de abordagens inseridas em contextos sociais diversos potencializam o olhar crítico sobre o mundo e possibilitam a formação de leitores cidadãos, mais empáticos com o outro e suas realidades plurais. Nessa perspectiva, os poemas A noite dissolve os homens, de Carlos Drummond de Andrade, Esses chopes dourados, de Jorge Wanderley, Poema aos homens de nosso tempo, de Hilda Hilst, Quebranto, de Cuti, Tecendo a manhã, de João Cabral de Melo Neto, os contos A caolha, de Júlia Lopes de Almeida, Maria, de Conceição Evaristo, Oásis de Caio Fernando Abreu, Viagem a Petrópolis, de Clarice Lispector, a novela O recado do morro, de João Guimarães Rosa, e o romance Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro, expressam a diversidade de contextos sociais que enriquecem nossa literatura.

Segunda citação

  • Gênero textual - poema 
  • Uso de recursos narrativos no poema
  • Olhar crítico sobre a mudança de perspectivas em gerações e os conflitos geracionais
  • Empatia ao compreender as diferentes visões de mundo dos escritores - E das gerações!

No campo social, as estruturas de organização excludentes oprimem, matam, segregam, o que pode ser percebido nas obras Entenda o que é Racismo Estrutural – Canal do Preto e nos poemas A noite dissolve os homens, de Carlos Drummond de Andrade, Quebranto, de Cuti, Esses chopes dourados, de Jorge Wanderley, e Poema aos homens de nosso tempo, de Hilda Hilst. Na organização das sociedades, as estruturas de poder e dos governos devem ser pensadas e problematizadas, como evidenciam os textos Sobre a violência (partes 2 e 3), de Hannah Arendt, e Necropolítica, de Achile Mbembe. 

Terceira citação

  • Entre as gerações - choque entre gerações às vezes se dá de forma violenta
  • Dentro de uma geração - sociedade que pregava uma violência disfarçada de educação
  • Uma opressão que se manteve entre gerações e é questionada
  • Olhar crítico sobre os conceitos e práticas normalizadas pela sociedade
  • Progresso entre gerações a partir do questionamento - aprendizado
  • Algumas gerações são "amaldiçoadas"

Os poemas Esses chopes dourados (2001), de Jorge Wanderley, e Poema aos homens do nosso tempo, de Hilda Hilst ( 1974), problematizam a diferença entre as gerações e a percepção sobre a violência e são vistas sob uma perspectiva intimista, já o conto Oásis (1975), de Caio Fernando Abreu, também aborda a violência, a discriminação de gênero e a opressão sobre minorias ou menorizados.

Quarta citação

  • Antes era certo bater, mas tal atitude foi questionada
  • Construção da visão contemporânea que questiona as gerações anteriores no processo de educação 
  • Antes a violência e a opressão eram uma forma de educação 
  • O mais forte "educava" o mais fraco - obediência à força
  • Hoje sabe-se dos traumas causados e discutem-se outras abordagens que não se baseiam na dominação pela força e punição pela dor
  • Escritor fala em um tom mais pessoal, falando de sua experiência - "conversa de bar" com o leitor

A percepção da finitude do entendimento pode impor certos limites às ambições da razão, que ao investir sobre a realidade, tende a uniformizações e padronizações questionáveis. Nesse sentido, os poemas Esses Chopes Dourados, de Jorge Wanderley, e Soneto, de Ana Cristina Cesar, apresentam relevantes críticas da realidade.

Quinta citação

  • Mudança de conceitos como educação, violência, abuso...
  • Certo e errado dependem do contexto sociocultural 
  • Entendimento de cada geração é limitado por padrões socioculturais
  • Na falta de uma compreensão da realidade por inteiro,  a razão cria padrões com base em noções incompletas 
  • Esses padrões devem ser questionados para que possamos progredir

Obrigado e até a próxima!

Esses chopes dourados

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Esses chopes dourados

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