Manuel Bandeira

Luan Mateus Vick

A cinza das horas

O primeiro livro

Características

Poemas parnaso-simbolistas

Tom fúnebre, doloroso

Eu-lírico vivencia a morte

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

(DESENCANTO)

Carnaval

verso livre

CARACTERÍSTICAS

Carnavalização

Humor amargo

Ironia

Auto-humilhação do Eu-lírico

Os sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra. 

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!" 

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos. 

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio. 

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Os sapos

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..." 

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!" 

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro. 

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quando é vário,
Canta no martelo." 

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!" 

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Os sapos

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No porão profundo
E solitário, é 

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...

LIBERTINAGEM

"100% modernista"

POÉTICA

Estou farto do lirismo comedido 
Do lirismo bem comportado 
Do lirismo funcionário 
    público com livro de ponto 
    expediente protocolo 
    e manifestações 
   de apreço ao sr. diretor. 

Estou farto do lirismo 
    que pára e vai averiguar 
no dicionário o cunho 
    vernáculo de um vocábulo 

Abaixo os puristas 
Todas as palavras sobretudo 
    os barbarismos universais 
    Todas as construções 
sobretudo as sintaxes 
    de exceção 
Todos os ritmos 
    sobretudo os inumeráveis 

Estou farto 
    do lirismo namorador 
Político 
Raquítico 
Sifilítico 
De todo lirismo que capitula 
    ao que quer que seja 
    fora de si mesmo. 

 

De resto não é lirismo 
Será contabilidade 
    tabela de co-senos secretário 
    do amante exemplar 
    com cem modelos de cartas 
    e as diferentes maneiras 
    de agradar às mulheres, etc. 

Quero antes 
    o lirismo dos loucos 
O lirismo dos bêbados 
O lirismo difícil 
    e pungente dos bêbados 
O lirismo 
    dos clowns de Shakespeare 

– Não quero mais saber 
do lirismo que não é libertação

Manuel Bandeira

By Luan Mateus Vick

Manuel Bandeira

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